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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Entre o passado e o contemporâneo, Os Replicantes celebram 35 anos de 'O futuro é vórtex'

Show no Gravador Pub trará as canções de um dos álbuns mais influentes do punk rock brasileiro - Marcelo Nunes / Divulgação / JC

Mesmo passados 35 anos desde o lançamento do primeiro álbum, as músicas produzidas naquela época pelo grupo Os Replicantes ainda carregam consigo uma intensa atmosfera de modernidade. Em comemoração ao aniversário do disco O futuro é vórtex, apresentado ao público pela primeira vez em 1986, a banda se reúne para um show especial que irá resgatar e relembrar o início de carreira dos integrantes. A apresentação acontece neste sábado, às 21h no Gravador Pub (Conde de Porto Alegre, 22), com apenas 45 ingressos disponíveis para compra através da plataforma Sympla.
 
A banda, uma das mais importantes e simbólicas de punk rock do Estado, surgiu de forma despretensiosa durante o verão de 1983. Heron Heinz, um dos fundadores, conta que se juntou ao irmão Claudio e ao amigo Carlos Gerbase com a expectativa de fazer um som sem compromisso. "Nenhum de nós tinha feito algo do tipo antes. Começamos a tocar na garagem de casa mesmo. Era eu no baixo, Cláudio na guitarra e Gerbase na bateria. Depois de um tempo o Wander (Wildner) se juntou com a gente para cantar. Foi aí que começamos oficialmente."
 
Tempos depois, com outras bandas gaúchas também emergindo e se destacando no cenário musical regional, a gravadora RCA veio para o Sul com o intuito de fechar alguns contratos. Os Replicantes entraram no projeto e, a partir disso, o primeiro álbum foi lançado com o nome de O futuro é vórtex. "Todo ele foi montado com as músicas feitas na época de garagem e que tinham sido gravadas em fita cassete. Fomos para São Paulo com tudo pronto, sem precisar de nada novo", conta.
 
O conteúdo presente nas canções traduz o momento em que estavam vivendo, com o fim da ditadura militar e a esperança de dias melhores. "A gente tinha aquela sensação de estar saindo de uma coisa muito pesada, mas ao mesmo tempo ainda tínhamos um longo caminho a percorrer. Tanto que algumas músicas do disco foram censuradas e não podiam tocar nas rádios. Todo esse ambiente político influenciava o nosso trabalho." Além disso, o repertório de Gerbase dentro do universo de ficção científica também serviu de inspiração para muitas composições.
 
"É incrível olhar isso tudo agora, porque a gente percebe a contemporaneidade presente no material. Tocamos as músicas até hoje e elas parecem ser muito atuais, sendo que já se passaram 35 anos", reflete. Em julho de 2016, o disco chegou a ser eleito pela revista Rolling Stone Brasil como o 8º melhor do gênero no Brasil. Para Heinz, a longevidade do grupo está relacionada com a maneira leve com o qual levam a profissão. "Sempre foi uma grande brincadeira para nós, e esse é um dos pilares que nos sustentaram até hoje. Nunca encaramos a música como obrigação ou como algo pesado", explica.
 
Apesar da composição da banda ter sofrido com algumas alterações ao longo dos anos, todos os integrantes que passaram por ela ficaram tempo o suficiente para criar um boa unidade e sintonia. "Tenho orgulho de ter estado aqui desde o início, então não tem como dizer que eu não carrego um certo tipo de legado." Atualmente, o grupo é composto pelos irmãos Cláudio (guitarra) e Heron Heinz (baixo), Cleber Andrade (bateria) e Julia Barth (voz).
 
No show deste sábado, todas as músicas do primeiro disco serão apresentadas. Como forma de prestigiar o público presente, cantarão ainda algumas outras faixas, inclusive algumas que integram sua mais recente produção, Libertà. "É interessante perceber a relação que esses dois trabalhos têm, por que os dois estão ligados com o momento em que foram produzidos. O primeiro deles aconteceu enquanto estávamos saindo de um período escuro e pesado (ditadura militar), e o outro, lançado há uns dois anos, remete ao início de uma conjuntura parecida (governo Bolsonaro)."
 
Diante disso, Heinz frisa o quanto eles se preocupam em abordar nas canções questões da sociedade que exigem mudanças imediatas, como o racismo, o machismo, a homofobia e o autoritarismo. "Precisamos combater esse tipo de discurso, é muita violência acontecendo diariamente."
 
A presença de palco e o contato intimista com os fãs sempre foram duas marcas do grupo. Em razão da pandemia de covid-19, no entanto, a dinâmica de trabalho precisou ser reestruturada. "Foi muito difícil ficar tanto tempo longe, mas aproveitamos para fazer algumas lives e produzir alguns clipes bem legais. Foi produtivo, mas não tem como comparar com os shows, essa sempre foi a melhor parte e é muito bom estar de volta."
 
Fonte! Chasque (reportagem) publicado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre - RS, edição do dia 14 de dezembro de 2021.