Após assistir um documentário até então desconhecido por mim, sobre Luiz Carlos Barbosa Lessa, tive mais certeza de dois aspectos que envolvem este ilustre intelectual brasileiro.
Primeiro que sua obra ainda não foi totalmente
desbravada, explorada e conhecida de perto, precisa urgentemente ser “apossada”
por nós, precisamos usá-la integramente nos mais variados campos do
conhecimento, pois a mesma se aplica e tem links que se conectam com os mais
variados temas do cotidiano humano, não ficando restrito apenas a nossa cultura
folclórica do Rio Grande Sul.
E segundo, que o Tradicionalismo acabou
“soterrando” sua obra. O Dicionário nos explica que o sentido desta palavra
Soterrado “é estar metido por baixo da terra, estar coberto de terra.” Uso aqui
o sentido de encobrir com um espesso manto, ocultando outras potencialidades
que mesma pode ter, e vir à luz, daqueles que a procuram, ou então, se
apercebendo por apenas este viés, não tem contato com outros aspectos da
construção teórica de Luiz Carlos Barbosa Lessa.
O poeta e também advogado Juarez Machado de Farias,
escreveu seu Trabalho de Conclusão de Curso abordando um importante olhar sobre
a obra deste o qual nos propusemos a traçar estas reflexões, também mencionando
o envolvimento Tradicionalista. O trabalho intitula-se “A Obra Literária de
Barbosa Lessa Como Ferramenta Pedagógica de Valorização do Povo Negro”.
Transparece-me que o senso comum, ou os poucos que
não fazem parte das agremiações tradicionalistas, somente conhecem a obra de
Barbosa Lessa, ou parte dela, vinculada a o cabedal teórico que permeia as
cartilhas “cetegistas”, olvidando assim, que este autor desenvolveu vários
projetos no campo da poesia, da musica, da ecologia, do jornalismo e etc...
Fragmentando assim sua contribuição para a cultura geral, em diversas
ramificações, e não atendo se assim apenas ao Tradicionalismo. Talvez, seja
este sim o assunto a qual ele mais se dedicou, mas o que aqui eu proponho fazer
é que possamos desvincular este tema, e lançar um olhar mais aprofundado sobre
sua obra literária, onde o mesmo aborda e questiona importantes temas sociais,
de uma realidade marginalizada tão atual em nossos tempos.
Ele também teve uma preocupação grande, quase que
uma devoção, ao povo negro, por entender que sem a permanecia e vinda deles
para este continente, este País não seria o que hoje é. Ele foi o primeiro a
compor uma musica com ritmo afro em um festival Nativista em nosso estado.
Estudava profundamente a língua Tupi Guarani e sua influencia no nosso dialeto,
com suas interferências nas lendas e causos que ele recolhia nos rincões mais
ermos deste estado. Conhecia muito sobre as propriedades medicinais das ervas,
sempre foi um grande observador e leitor deste livro monumental que é a mãe
natureza.
O que proponho é que possamos ver Barbosa Lessa
além do Tradicionalismo, que possamos pesquisar ele e sua obra, de uma forma
nítida e não influenciada pelo tradicionalismo.
Seus contos abordam vários aspectos sociais,
abordam as mazelas econômicas que tão fortemente até os dias atuais atingem os
moradores das zonas rurais, saindo daquele modelo clássico de entendimento de
como o gaúcho é visto e pensado, ou seja, como um herói, uma figura romantizada
e épica.
Seus escritos quando lidos merecem um estudo mais
acurado das situações que envolvem seus personagens, pois não raro os leitores
leem de uma forma rasa e superficial, não refletindo nas questões psicológicas
e sociológicas que aparecem como pano de fundo de sua narrativa.
Precisamos analisar digamos toda a “geografia” que
envolve seus contos, seus personagens, suas metáforas e suas ironias, Barbosa
Lessa como um autor inteligente que era, pensou em passar informações subliminares
que suscitasse á seus leitores a reflexão quando decorriam os quadros
narrativos literários, ampliando o “horizonte” de entendimento de sua obra e
não somente com as simples ideias descritivas.
O leitor precisa estar atento a isso, e quando ele
se da conta, que pode extrair mais informações que o texto oferece a
possibilidade para conexões com outros paralelos de discussão, sua obra
sobremaneira se torna mais rica, interessante e estimulante. Fato este que nos
permite trabalhar sua obra em vários outros campos do conhecimento, além das
paredes de um mero centro de tradições gaúchas.
Fonte! Chasque de Alan Otto Redü publicado no sítio Prosa Galponeira.
Abra as porteiras clicando em www.prosagalponeira.blogspot.com.
Retrato de Beatriz Colombelli.
Chasque levado para o programa Gritos do Quero Quero da Rádio Acácia FM, que foi ao ar no dia 12 de abril de 2014. Fonte do Retrato: http://ctgsinuelodosul.wordpress.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário