Show no Gravador Pub trará as canções de um dos álbuns mais influentes do punk rock brasileiro - Marcelo Nunes / Divulgação / JC
Mesmo passados 35 anos desde o
lançamento do primeiro álbum, as músicas produzidas naquela época pelo
grupo Os Replicantes ainda carregam consigo uma intensa atmosfera de
modernidade. Em comemoração ao aniversário do disco O futuro é vórtex,
apresentado ao público pela primeira vez em 1986, a banda se reúne para
um show especial que irá resgatar e relembrar o início de carreira dos
integrantes. A apresentação acontece neste sábado, às 21h no Gravador
Pub (Conde de Porto Alegre, 22), com apenas 45 ingressos disponíveis
para compra através da plataforma Sympla.
A banda, uma das mais importantes e
simbólicas de punk rock do Estado, surgiu de forma despretensiosa
durante o verão de 1983. Heron Heinz, um dos fundadores, conta que se
juntou ao irmão Claudio e ao amigo Carlos Gerbase com a expectativa de
fazer um som sem compromisso. "Nenhum de nós tinha feito algo do tipo
antes. Começamos a tocar na garagem de casa mesmo. Era eu no baixo,
Cláudio na guitarra e Gerbase na bateria. Depois de um tempo o Wander
(Wildner) se juntou com a gente para cantar. Foi aí que começamos
oficialmente."
Tempos depois, com outras bandas gaúchas
também emergindo e se destacando no cenário musical regional, a
gravadora RCA veio para o Sul com o intuito de fechar alguns contratos.
Os Replicantes entraram no projeto e, a partir disso, o primeiro álbum
foi lançado com o nome de O futuro é vórtex. "Todo ele foi
montado com as músicas feitas na época de garagem e que tinham sido
gravadas em fita cassete. Fomos para São Paulo com tudo pronto, sem
precisar de nada novo", conta.
O conteúdo presente nas canções traduz o
momento em que estavam vivendo, com o fim da ditadura militar e a
esperança de dias melhores. "A gente tinha aquela sensação de estar
saindo de uma coisa muito pesada, mas ao mesmo tempo ainda tínhamos um
longo caminho a percorrer. Tanto que algumas músicas do disco foram
censuradas e não podiam tocar nas rádios. Todo esse ambiente político
influenciava o nosso trabalho." Além disso, o repertório de Gerbase
dentro do universo de ficção científica também serviu de inspiração para
muitas composições.
"É incrível olhar isso tudo agora,
porque a gente percebe a contemporaneidade presente no material. Tocamos
as músicas até hoje e elas parecem ser muito atuais, sendo que já se
passaram 35 anos", reflete. Em julho de 2016, o disco chegou a ser
eleito pela revista Rolling Stone Brasil como o 8º melhor do gênero no
Brasil. Para Heinz, a longevidade do grupo está relacionada com a
maneira leve com o qual levam a profissão. "Sempre foi uma grande
brincadeira para nós, e esse é um dos pilares que nos sustentaram até
hoje. Nunca encaramos a música como obrigação ou como algo pesado",
explica.
Apesar da composição da banda ter
sofrido com algumas alterações ao longo dos anos, todos os integrantes
que passaram por ela ficaram tempo o suficiente para criar um boa
unidade e sintonia. "Tenho orgulho de ter estado aqui desde o início,
então não tem como dizer que eu não carrego um certo tipo de legado."
Atualmente, o grupo é composto pelos irmãos Cláudio (guitarra) e Heron
Heinz (baixo), Cleber Andrade (bateria) e Julia Barth (voz).
No show deste sábado, todas as
músicas do primeiro disco serão apresentadas. Como forma de prestigiar o
público presente, cantarão ainda algumas outras faixas, inclusive
algumas que integram sua mais recente produção, Libertà. "É
interessante perceber a relação que esses dois trabalhos têm, por que os
dois estão ligados com o momento em que foram produzidos. O primeiro
deles aconteceu enquanto estávamos saindo de um período escuro e pesado
(ditadura militar), e o outro, lançado há uns dois anos, remete ao
início de uma conjuntura parecida (governo Bolsonaro)."
Diante disso, Heinz frisa o quanto eles
se preocupam em abordar nas canções questões da sociedade que exigem
mudanças imediatas, como o racismo, o machismo, a homofobia e o
autoritarismo. "Precisamos combater esse tipo de discurso, é muita
violência acontecendo diariamente."
A presença de palco e o contato
intimista com os fãs sempre foram duas marcas do grupo. Em razão da
pandemia de covid-19, no entanto, a dinâmica de trabalho precisou ser
reestruturada. "Foi muito difícil ficar tanto tempo longe, mas
aproveitamos para fazer algumas lives e produzir alguns clipes bem
legais. Foi produtivo, mas não tem como comparar com os shows, essa
sempre foi a melhor parte e é muito bom estar de volta."
Fonte! Chasque (reportagem) publicado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre - RS, edição do dia 14 de dezembro de 2021.
Valeu pela força, grande Valdemar Engroff!
ResponderExcluir